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Conselho consultivo não!
Antes de desmistificar o papel do conselho consultivo nas empresas familiares, é essencial definirmos claramente os termos administração e consultivo. Administração refere-se ao ato de gerir, coordenar e tomar decisões estratégicas para o negócio, assegurando que ele funcione de maneira eficaz e sustentável. Em empresas familiares, essa função vai além das questões operacionais, englobando também a gestão de dinâmicas familiares, sucessão, sociedade e legado. Já o termo consultivo implica fornecer consultas, uma posição passiva, mas para um consultor, conselhos ou sugestões superficiais que influenciem a tomada de decisões, mas sem necessariamente ter o poder assertivo de decisão final.
Agora, o problema surge quando se afirma que conselhos consultivos em empresas familiares não têm envolvimento administrativo. Esse entendimento não só é equivocado como perigoso, levando a várias consequências negativas para a eficácia da governança. Todo Conselho em uma empresa familiar é, na prática, de administração, pois mesmo ao fornecer orientações, ele administra direta ou indiretamente o futuro do negócio, da família e dos sócios e influência demais nas execuções das decisões. Eu vivo esse mundo diariamente.
Administração não é um conceito estático
Em empresas familiares, administração não é apenas sobre decisões financeiras ou operacionais. Ela envolve a interação entre os membros da família, a gestão de expectativas e a preservação do legado. Dizer que os chamados conselhos consultivos não administra é subestimar a profundidade de suas responsabilidades. Na verdade, todo Conselho, seja consultivo ou deliberativo, administra. Esse ato vai além das decisões puramente operacionais ou fiduciárias, englobando a orientação estratégica e a preservação da cultura empresarial, familiar e societária.
As consequências de um viés conceitual
Esse entendimento equivocado de que o Conselho Consultivo não administra tem consequências reais e negativas que afetam empresários, conselheiros e o mercado:
1. Por parte dos empresários: a crença de que o conselho consultivo é inferior leva muitos empresários a desvalorizar sua importância, resultando na subutilização dos Conselhos Consultivos. Eles poderiam estar exercendo um papel muito mais estratégico na administração dos negócios, da família e do legado.
2. Por parte dos Conselheiros: esse viés também impacta os conselheiros, que tendem a inferiorizar os conselhos consultivos como opção de carreira. Consequentemente, profissionais que poderiam agregar valor acabam subestimando a qualidade de suas entregas. Isso limita o desenvolvimento da governança familiar, já que conselheiros desmotivados não atuam com o potencial necessário.
3. Por parte do mercado: o mercado também é impactado, acreditando que Conselhos Consultivos, por não terem poder de decisão final, não efetivam a governança. Isso cria uma percepção equivocada de que governança eficaz só ocorre com conselhos deliberativos, ignorando o papel fundamental que conselhos consultivos desempenham na administração das empresas familiares.
Consultivo ou Deliberativo: todo Conselho é de administração
O Conselho Consultivo, na prática, é um conselho de administração ajustado à realidade das empresas familiares. Ele administra, direta ou indiretamente, não apenas os negócios, mas também a família empresária, os sócios, o meio ambiente e o legado. A função de administrar não é exclusiva de conselhos deliberativos, e o papel do conselho consultivo é central para o funcionamento da empresa e para a construção de seu futuro.
Esse erro conceitual vem da tentativa de aplicar modelos de governança desenvolvidos para grandes corporações e não familiares a empresas familiares, onde a governança exige um equilíbrio entre negócios, família, legado e responsabilidades sociais.
Formalidade e deliberação: o papel real do Conselho Consultivo
Outro equívoco é acreditar que o conselho consultivo não tem formalidade ou poder de deliberação. Em empresas familiares com governança bem estruturada, o conselho consultivo segue processos formais com reuniões regulares, pautas claras e atas devidamente registradas. Mesmo que suas decisões não sejam legalmente vinculantes, elas influenciam diretamente a administração da empresa.
Ao propor mudanças estratégicas, sugerir soluções ou orientar processos de sucessão, o conselho consultivo delibera e, portanto, administra. A distinção entre conselhos consultivos e deliberativos, especialmente em empresas familiares, é artificial e não reflete a verdadeira prática de governança.
Conselho Consultivo não existe: todo Conselho é de administração
A distinção entre conselho “consultivo” e “deliberativo” em uma empresa familiar é, na realidade, irrelevante. Todo conselho é, de fato, um conselho de administração, independentemente do título que recebe. Ele administra os negócios, a família, os sócios, o meio ambiente e o legado da empresa. O conceito de que um conselho consultivo é passivo ou sem impacto é fruto de um modelo de governança que não se aplica ao contexto das empresas familiares.
Esse viés resulta na subvalorizarão dos conselhos consultivos pelos empresários, na falta de ambição dos conselheiros ao se engajarem com esses conselhos, e na percepção errônea do mercado de que governança eficaz só ocorre com conselhos deliberativos. No entanto, em empresas familiares, o Conselho Consultivo administra tanto quanto o deliberativo, e desempenha um papel crucial na preservação e perpetuação do negócio e do legado familiar.
Administração através de todos os pilares da Governança familiar
Ao desempenhar suas funções, o Conselho administra todos os aspectos críticos da empresa familiar, desde as questões operacionais e estratégicas até as dinâmicas familiares e a perpetuação do legado. A administração não se limita a decisões financeiras ou operacionais; ela engloba as relações familiares, a sucessão e a responsabilidade social e ambiental da empresa. Portanto, em empresas familiares, todo conselho é de administração.
Ignorar o papel administrativo do Conselho Consultivo é subestimar a complexidade e a importância da governança familiar. O impacto dessas deliberações influencia diretamente a perpetuidade da empresa e a preservação dos valores que a sustentam.
Conclusão: Conselho Consultivo não existe – todo Conselho é de administração
O conceito de Conselho Consultivo como um órgão sem peso administrativo é um erro que prejudica a governança familiar. Todo Conselho, seja ele consultivo ou deliberativo, exerce funções de administração, influenciando diretamente o futuro do negócio, a família, os sócios e o legado. A ideia de que o Conselho Consultivo é menor ou menos importante é fruto de um viés conceitual que não reflete a realidade das empresas familiares.
Então, diante desse panorama, como você vê o papel dos Conselhos em empresas familiares? Comente sua perspectiva!
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Artigo original: Leia aqui.