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Fanatismo corporativo: diagnóstico e cura
O fanatismo é um fenômeno universal, presente em contextos tão amplos quanto guerras, campanhas políticas e religiões. Ele se manifesta sempre que uma pessoa ou um grupo adota uma crença rígida, sem espaço para o diálogo ou a aceitação do outro. Nos últimos anos, observamos um aumento no fanatismo em vários setores da sociedade, impulsionado por polarizações políticas e culturais. No ambiente corporativo, o fanatismo também se faz presente, muitas vezes de forma sutil, mas com efeitos igualmente destrutivos. O fanatismo corporativo começa como uma insistência em certas ideias ou práticas e pode escalar até se transformar em uma cultura tóxica e intolerante dentro da empresa.
Para entender como o fanatismo se instala nas corporações e como podemos combatê-lo, podemos recorrer às reflexões de Amós Oz em seu livro “Como Curar um Fanático”. Embora suas ideias estejam enraizadas em questões políticas, especialmente no contexto do conflito entre Israel e Palestina, elas oferecem lições valiosas para o ambiente corporativo. Segundo Oz, o fanatismo nasce da crença de que há respostas simples para problemas complexos . Essa visão pode ser perigosamente aplicada ao mundo dos negócios, onde soluções unilaterais frequentemente ignoram a complexidade dos desafios organizacionais.
Como o fanatismo se manifesta no ambiente corporativo
O fanatismo corporativo tem início de forma sutil, muitas vezes com boas intenções. Um líder, por exemplo, pode estar convencido de que sua visão ou estratégia é a melhor para a empresa, e começa a tentar impor suas ideias aos colaboradores. Com o tempo, essa convicção pode se transformar em um dogma, onde qualquer dissidência ou questionamento é visto como uma ameaça.
Os primeiros sinais de fanatismo corporativo incluem:
- Certeza inabalável: O fanático corporativo acredita que sua visão ou metodologia é a única correta, rejeitando qualquer forma de crítica ou adaptação.
- Imposição de valores: Sejam valores culturais, religiosos, políticos ou de gestão, o fanático busca impor sua crença sobre os outros. Aqueles que não se alinham são marginalizados ou excluídos.
- Simplificação excessiva: O fanatismo se alimenta da ideia de que há soluções fáceis para problemas complexos. No mundo corporativo, isso pode se manifestar em líderes que adotam uma abordagem única para todos os problemas, sem considerar as nuances e desafios específicos de cada situação.
O fanatismo coletivo: quando a empresa adota a cegueira
Assim como nas guerras e campanhas políticas, o fanatismo corporativo pode rapidamente se transformar em um fenômeno coletivo. Quando líderes ou grupos dentro da empresa incentivam a adesão cega a regras ou filosofias, sem permitir o questionamento, criam-se ambientes onde o fanatismo floresce.
Esse comportamento pode se alastrar em várias áreas da organização, como:
- Fanatismo cultural: Quando os valores tradicionais da empresa se tornam intocáveis, e qualquer tentativa de inovação ou mudança é rejeitada como uma ameaça à cultura estabelecida.
- Fanatismo político ou religioso: Quando as crenças pessoais dos líderes ou de grupos de funcionários começam a influenciar as práticas e decisões da empresa, dividindo os colaboradores e criando tensões internas.
- Fanatismo concorrencial: Quando a obsessão por superar a concorrência leva a uma postura implacável, desconsiderando a ética, a colaboração e o impacto social das decisões empresariais.
Um exemplo comum desse fanatismo é encontrado em empresas que adotam uma abordagem de competição extrema, tratando seus concorrentes como inimigos a serem destruídos, e não como oportunidades de aprendizado e melhoria. Essa mentalidade pode corroer a cultura interna e prejudicar a reputação externa da empresa.
O papel da Governança Corporativa na prevenção e cura
A governança corporativa é uma ferramenta poderosa para prevenir o fanatismo e curá-lo quando ele já está presente. Uma governança eficaz promove a diversidade de pensamento, a transparência e o respeito à ética, impedindo que ideologias fanáticas se enraízem na cultura organizacional.
Amós Oz sugere que o humor e a curiosidade são antídotos poderosos contra o fanatismo Fronteiras do Pensamento. No ambiente corporativo, isso pode ser traduzido pela criação de espaços onde as ideias possam ser questionadas de forma construtiva e onde o erro seja visto como uma oportunidade de aprendizado, não como uma falha a ser punida. A governança pode implementar políticas que incentivem a troca de ideias e garantam que todas as vozes dentro da empresa sejam ouvidas.
Além disso, a governança também deve:
- Garantir a transparência: Processos decisórios claros e acessíveis a todos criam um ambiente onde a imposição de ideias se torna mais difícil, pois qualquer tentativa de manipulação pode ser desmascarada.
- Valorizar a diversidade: Empresas que promovem a inclusão e a diversidade cultural, de pensamento e de experiências criam um ambiente onde o fanatismo é naturalmente repelido.
- Estabelecer limites éticos: A governança deve garantir que todas as práticas da empresa estejam alinhadas a princípios éticos sólidos, prevenindo que decisões imorais ou destrutivas sejam tomadas em nome do “sucesso a qualquer custo”.
Conclusão: O fanatismo começa em nós
No final das contas, o fanatismo corporativo começa dentro de cada um de nós, quando acreditamos que nossas soluções e visões são as únicas válidas e tentamos impor essas crenças sobre os outros. A cura, como propõe Amós Oz, passa pela capacidade de questionar, ouvir e valorizar o outro. A governança corporativa deve criar as condições para que isso aconteça de forma estruturada, garantindo que o diálogo e a ética prevaleçam sobre qualquer tipo de dogma ou imposição.
A cura do fanatismo corporativo depende da disposição de todos, desde líderes até colaboradores, em adotar uma postura aberta e colaborativa, permitindo que a empresa se transforme em um ambiente de crescimento e inovação, onde a diversidade não só é aceita, mas celebrada como um ativo essencial para o sucesso sustentável.
CR 🦉✨
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Artigo original: Leia aqui.