Como ativista das empresas familiares, dedico minha trajetória a defender o verdadeiro potencial desse ecossistema único, que vai além dos números, transborda valores e é alicerçado por pessoas com histórias. Dentro desse contexto, tenho observado um fenômeno preocupante que ameaça a harmonia e perpetuação dessas organizações: o isolamento social dos indivíduos-chave, alimentado por uma proposta vazia, modista e equivocada, denominada “sucessão”.
É urgente a reflexão sobre como essa ideia de “sucessão” tem se infiltrado nas narrativas empresariais e como seu impacto tem sido devastador. Promovida como uma fórmula de renovação e continuidade, a sucessão, em sua concepção tradicional, faz mais mal do que bem ao ecossistema de uma empresa familiar. Ao invés de integrar, ela separa; ao invés de fortalecer, ela enfraquece.
O que são os indivíduos-chave?
No contexto do método BFB (Balanced Family Business), do Instituto Empresariar, os indivíduos-chave são peças centrais no ecossistema de uma empresa familiar. Eles não são apenas os fundadores ou os sócios principais, mas incluem aqueles que, ao longo do tempo, se tornaram pilares do negócio. São membros familiares influentes, colaboradores estratégicos ou até parceiros de confiança que desempenham um papel vital na continuidade da empresa.
Esses indivíduos carregam a cultura, a história e o propósito da organização. Eles são guardiões dos valores familiares e da identidade empresarial, e seu conhecimento profundo do negócio é insubstituível. Seu papel transcende o cargo formal que ocupam — eles são os mantenedores da essência da empresa, e seu afastamento ou isolamento pode desestruturar o equilíbrio do ecossistema familiar.
No entanto, o conceito de “sucessão” ameaça isolar esses indivíduos-chave. A falsa premissa de que uma nova geração deve “substituir” a anterior cria barreiras artificiais que excluem aqueles que, historicamente, construíram e mantiveram a empresa.
O perigo do conceito de “sucessão”
O conceito de sucessão, tal como é amplamente propagado, está associado à substituição — uma geração é removida e outra assume seu lugar. Nesse processo, os indivíduos-chave, como fundadores, familiares e colaboradores estratégicos, muitas vezes se veem isolados. A ideia subjacente é a de que, após certa idade ou tempo de atuação, esses indivíduos devem dar lugar a outros, como se fossem peças de um quebra-cabeça que podem ser trocadas sem causar qualquer impacto no todo.
Essa visão mecanicista ignora a riqueza emocional, histórica e cultural que esses indivíduos trazem para a empresa. O conceito de sucessão promove uma ruptura brusca e artificial, separando o passado do futuro, ignorando a importância de transições colaborativas e, o mais grave, isolando aqueles que foram responsáveis por construir as bases do que a empresa é hoje.
Os indivíduos-chave que, por décadas, nutriram a empresa com suas visões, experiências e decisões, são afastados, muitas vezes de maneira sutil, mas dolorosa, levando ao seu isolamento social e emocional. São relegados a uma posição periférica, onde perdem não apenas o poder de decisão, mas também seu senso de pertencimento e propósito.
O isolamento do idoso indivíduo-chave
Esse isolamento é ainda mais profundo quando se trata de indivíduos-chave idosos. O impacto emocional de afastar um membro mais velho da família ou não, que dedicou décadas de sua vida à empresa, é devastador. Não apenas porque sua sabedoria e experiência são minimizadas, mas também porque o sentido de continuidade da própria vida é comprometido.
Para o idoso, a sensação de ser substituído pode significar a perda de sua identidade e propósito, levando a sentimentos de inutilidade e até mesmo de vazio. Em vez de preservar sua importância no contexto empresarial e familiar, o conceito de sucessão, quando mal aplicado, isola esse indivíduo, negando-lhe o direito de fazer parte ativa do legado que ele mesmo ajudou a construir.
A empresa familiar, por sua natureza, deveria ser um espaço de acolhimento e valorização, não apenas dos mais jovens, mas principalmente daqueles que pavimentaram o caminho para que as novas gerações pudessem seguir em frente. Negar isso é desestruturar o ecossistema familiar.
A falsa promessa da renovação
A sucessão é vendida como sinônimo de renovação, mas é uma renovação que vem à custa da sabedoria acumulada, do vínculo emocional e da conexão com as raízes do negócio. E o resultado disso é devastador: uma quebra no equilíbrio do ecossistema, gerando insegurança, conflitos internos e, frequentemente, o enfraquecimento da governança.
Muitos indivíduos-chave, após serem “substituídos”, continuam a existir à margem do processo decisório, criando um cenário de isolamento. Ainda estão fisicamente presentes, mas sua voz não é mais ouvida; seu papel, outrora vital, é agora minimizado. Isso causa não apenas ressentimento, mas desorientação, pois as empresas perdem o norte emocional que esses indivíduos ofereciam.
A integração de gerações: o verdadeiro caminho sustentável
Contrapondo esse modelo falho de sucessão, defendo o conceito de integração de gerações. Em vez de substituição, é preciso que haja cooperação. A verdadeira continuidade de uma empresa familiar não está em apagar o legado da geração anterior, mas em construir pontes entre as gerações, em permitir que o novo se alimente do velho, e que ambos convivam em harmonia.
A integração de gerações é um processo sustentável, no qual os indivíduos-chave permanecem envolvidos, oferecendo sua experiência e sabedoria, enquanto a nova geração traz inovação e energia. Essa integração, ao invés de isolar, fortalece o ecossistema familiar, pois reconhece que o passado, presente e futuro são partes inseparáveis de um todo orgânico.
O papel dos Conselhos e da governança ecossistêmica
A integração de gerações não é apenas uma filosofia abstrata, mas pode ser estruturada através de mecanismos de governança bem definidos. Aqui entra a importância da governança ecossistêmica, conceito por nós defendido, que valoriza cada indivíduo-chave e assegura que suas contribuições continuem sendo ouvidas e integradas.
Os conselhos empresariais devem abandonar a lógica da sucessão e adotar uma visão holística de continuidade, na qual as gerações coexistem. A sabedoria dos fundadores e dos colaboradores mais antigos não é uma peça obsoleta a ser removida, mas uma força vital a ser preservada e renovada por meio do diálogo constante e do compartilhamento de experiências.
Um apelo às famílias empresárias
Como ativista das empresas familiares, faço um apelo às famílias empresárias, seus conselhos, executivos, assessores, professores…: repensem o conceito de sucessão. Observem com atenção os sinais de isolamento social de seus indivíduos-chave. Reconheçam que um processo de sucessão tradicional muitas vezes desconsidera o valor humano por trás das decisões estratégicas.
A proposta de substituição que o conceito de sucessão sugere é vazia, fadada ao fracasso, pois ignora que a força de uma empresa familiar está justamente em sua coletividade intergeracional, onde cada voz, cada contribuição, faz parte de um ecossistema único e sustentável.
Incluindo, somos união, somos família. Excluindo, somos desordem, somos o nada. A inclusão dos indivíduos-chave e a integração das gerações são o único caminho para garantir a perpetuação desse legado.
Incluindo, somos mais fortes!
O futuro das empresas familiares está na integração, não na substituição. O isolamento social de indivíduos-chave não é apenas uma perda emocional para a família, mas uma perda estratégica para a empresa. Vamos, juntos, rejeitar os modismos vazios e abraçar a integração de gerações como o caminho sustentável para a longevidade e o sucesso de nossas empresas.
Indivíduos-chave não são descartáveis. Eles são a essência que, somada à inovação da nova geração, garante a perpetuação de um legado sólido. Como ativista das empresas familiares, reafirmo: juntos, somos mais fortes.
Integrando, somos mais fortes
O futuro das empresas familiares está na integração, não na substituição. O isolamento social de indivíduos-chave não é apenas uma perda emocional para a família, mas uma perda estratégica para a empresa. Vamos, juntos, rejeitar os modismos vazios e abraçar a integração de gerações como o caminho sustentável para a longevidade e o sucesso de nossas empresas.
Repito: Incluindo, somos união, somos família. Excluindo, somos desordem, somos o nada. A inclusão dos indivíduos-chave e a integração das gerações são o único caminho para garantir a perpetuação desse legado.
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Artigo original: Leia aqui.